FALSIFICAÇÕES HISTÓRICAS

A Doação de Constantino

...............Uma das falsificações mais bem sucedidas da História. Trata-se de um documento intitulado Constitutum ou Donatio Constantini cujo texto é atribuído a CONSTANTINO (Caius Flavius Valerius Aurelius Constantinus), imperador romano de 306 a 337 dC, constituindo uma suposta doação da cidade de Roma e de várias províncias italianas à Igreja e ao papa Silvestre cujo pontificado (314-335) foi um dos mais longos da história do papado (21 anos e onze meses).

...............Esse documento teria sido forjado entre 750 e 850 d.C. mas somente em 1444 foi oficialmente declarado como falso. Serviu, entretanto, durante séculos, como argumento para explicar o poder temporal dos papas sobre os Estados Pontifícios.

...............No oratório dedicado ao papa S. Silvestre, cuja festa é comemorada em 31 de dezembro, na Igreja dos Quatro Santos Coroados, construída em 1246, existe um afresco representando a suposta doação de Constantino ao papa (ver imagem).

Alguns trechos desse documento:

.................. Nós temos julgado útil que, como são  Pedro foi escolhido vigário do Filho de Deus na terra, assim também os pontífices, que fazem as vezes do mesmo príncipe dos Apóstolos, recebam de nossa parte e de nosso Império um poder de governo maior que o que possui a terrena clemência de nossa serenidade imperial, porque Nós desejamos que o mesmo príncipe dos Apóstolos e seus vigários nos sejam seguros intercessores junto a Deus. Desejamos que a Santa Igreja Romana seja honrada com veneração, como nosso terreno poder imperial, e que a sede santíssima de são Pedro seja exaltada gloriosamente ainda mais que nosso trono terreno, já que Nós lhe damos poder, gloriosa majestade, autoridade e honra imperial. E mandamos e decretamos que tenha a supremacia sobre as quatro sedes eminentes de Alexandria, Antioquia, Jerusalém e Constantinopla e sobre todas as outras igrejas de Deus em toda a terra, e que o Pontífice reinante sobre a mesma e santíssima Igreja de Roma seja o  mais elevado em grau e primeiro de todos os sacerdotes de todo o mundo e decida tudo o que seja necessário ao culto de Deus e à  firmeza da fé cristã.

..................Temos conferido às igrejas dos santos Apóstolos Pedro e Paulo rendas de possessões, para que sempre estejam acesas as luzes e estejam enriquecidas de formas várias; ademais, por nossa benevolência, com decreto de nossa  sagrada vontade  imperial temos concedido terras no Ocidente e no Oriente, até   o Norte e até   o Sul, a saber na Judéia,  na Trácia, na Grécia, na Ásia, na África e na Itália e em várias ilhas, com a condição de que sejam governadas por nosso santíssimo padre o sumo pontífice Silvestre e seus sucessores...

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.............Desde este momento concedemos a nosso santo padre Silvestre, sumo pontífice e papa universal de Roma, e a todos os pontífices seus sucessores, que até o fim do mundo reinem sobre a sede de são Pedro: nosso palácio imperial de Latrão, o diadema, ou seja nossa  coroa, a tiara, o humeral que costumam portar os imperadores, o manto purpúreo e a túnica escarlate e qualquer outra indumentária imperial, a dignidade de cavaleiros imperiais, os cetros imperiais e todas as insígnias e estandartes e os diversos ornamentos imperiais, e todas as prerrogativas da excelência imperial e a glória de nosso poder. Queremos que todos os reverendíssimos sacerdotes que servem à mesma santíssima Igreja Romana em seus diversos graus, tenham a distinção  poder e proeminência com as que se adorna gloriosamente nosso ilustre Senado, ou seja, que se convertam em patrícios e cônsules e sejam investidos com todas as outras dignidades imperiais. Decretamos que o clero da Santa Igreja Romana se adorne como o exército imperial e como a potência imperial se circunda de oficiais, camareiros, servidores e guardas de todo tipo, assim também queremos que a Santa Romana Igreja esteja adornada com os  mesmos e para que resplandeça magnificamente a honra do Pontífice, decretamos mais o seguinte: que o clero da Santa Igreja Romana adorne sus cavalos  com arreios e gualdrapas de linho branco e assim cavalguem e como nossos senadores portem calçados brancos de pêlo de cabra, assim o  façam também os  sacerdotes, para que as coisas terrenas sejam adornadas como as celestiais, para glória de Deus. Além disso, a nosso santíssimo padre Silvestre e a seus sucessores  damos autoridade para ordenar a quem quer que deseje ser clérigo, ou de agregá-lo ao número dos religiosos. Ninguém aja com arrogância a respeito  disso. Também temos decidido que ele e seus sucessores usem o diadema, ou seja, a coroa de ouro puríssimo com pedras preciosas, que de nossa  cabeça lhe concedemos. Porém, como o mesmo beatíssimo Papa não quis  portar uma coroa de ouro sobre a coroa do sacerdócio, que tem a glória de são Pedro, Nós, com nossas próprias mãos pusemos sobre sua santa cabeça una tiara brilhante de cândido esplendor, símbolo da Ressurreição do Senhor e por reverência a S. Pedro seguramos as rédeas de seu cavalo, exercendo para ele o ofício de cavalariço: estabelecemos que também todos seus sucessores portem em procissão a tiara, com uma honra singular, como os  imperadores. E para que a dignidade pontifícia não seja inferior, mas tenha maior glória e poder que a do Império terreno, Nós damos ao mencionado santíssimo pontífice nosso Silvestre, papa universal, e desejamos e estabelecemos em seu poder graças a nosso decreto imperial, como possessões de direito da Santa Igreja Romana, não somente nosso palácio, como já foi dito, mas também a cidade de Roma e todas as províncias, lugares e cidades da Itália e do Ocidente. Para ele temos considerado oportuno transferir nosso império e o poder do reino até   o Oriente e fundar na província de Bizâncio, lugar ótimo, uma cidade com nosso nome, e estabelecer ali nosso governo, pois, não é justo  que o imperador terreno  reine onde o Imperador celestial estabeleceu o principado dos  sacerdotes e a Cabeça da religião cristã. Decretamos que todas estas decisões que temos sancionado com um sagrado decreto imperial e com outros divinos decretos, permaneçam invioláveis e íntegros até o fim do mundo. Por conseguinte, em presença de Deus vivo que nos ordenou reinar, e diante de seu juízo tremendo, decretamos solenemente, com este ato imperial, que a nenhum de nossos sucessores, magnatas, magistrados, senadores e súditos que agora, ou no futuro estiverem sujeitos ao império, seja lícito infringi-lo ou alterá-lo de qualquer modo. Se alguém -coisa que não cremos- desprezar ou violar isto, seja alcançado pelas  mesmas condenações e lhes sejam adversos, tanto agora como na vida futura, Pedro e Paulo, príncipes dos  Apóstolos, e com o diabo e com todos os  ímpios sejam precipitados para se queimarem nas profundezas do inferno.
Temos posto este nosso decreto, com nossa  firma, sobre o venerável corpo de S. Pedro, príncipe dos  Apóstolos.”

 
 Em 1440, o humanista LOURENZO VALLA provou que a Doação era falsa, demonstrando que o latim utilizado não era o do século IV, além de várias outras incoerências.
 

 

 

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Perícia Grafotécnica • Judá Jessé de Bragança Soares