FALSIFICAÇÕES HISTÓRICAS

A falsificação de escudos portugueses

...............Em 1925, o português Artur Virgílio Alves dos Reis, com 27 anos de idade, logrou realizar a maior  falsificação de dinheiro de sua época.  Em Portugal, ele havia iniciado o curso de engenharia, mas não o concluíra. Emigrou para Angola, fazendo-se passar por engenheiro, depois de falsificar um diploma de suposta escola politécnica  de Oxford, que, na verdade, não existia.

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..........Foi preso em 1924, após usar vários cheques sem fundo para comprar ações de empresas, em Angola e em Portugal, para onde retornara em 1922. Na prisão, onde esteve apenas 54 dias, planejou um golpe maior: falsificar um contrato em nome do Banco de Portugal, na época o emissor de moeda, embora fosse um tipo de sociedade de economia mista. A idéia era obter notas falsas com as mesmas qualidades das verdadeiras, porque seriam impressas numa empresa legítima.

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..........Entre seus cúmplices estava José Bandeira, irmão do embaixador português em Haia, bem como um financista holandês  e um espião alemão.
O falsário começou por elaborar um contrato fictício, que conseguiu autenticar em notário público.Em seguida, através do cúmplice José Bandeira, logrou obter a assinatura do irmão, embaixador e depois logrou validar o contrato nos consulados da Inglaterra, Alemanha e França. 

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..........Através do cúmplice holandês, dirigiu-se a uma empresa de papel-moeda holandesa, que remeteu o contrato para a empresa britânica Waterlow and Sons Limited de Londres, que era a casa impressora do Banco de Portugal. O cúmplice holandês pedir à empresa  inglesa que o assunto fosse tratado com a maior discrição, por razões políticas, esclarecendo que o objetivo era conceder um grande empréstimo para desenvolvimento de Angola, colônia portuguesa. Cartas falsificadas do Banco de Portugal para a empresa inglesa foram enviadas para completar as instruções, dentre as quais estava a justificativa para que as cédulas tivessem numeração duplicada, igual a outras que circulavam em Portugal, visto que tais cédulas deveriam circular apenas em Angola.

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..........Foram impressas 200 mil notas de valor nominal 500 escudos, o que, na época, equivalia a quase 1% do PIB português. As notas eram iguais às que começaram a circular, em Portugal, um ano antes, com a efígie de Vasco da Gama.

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..........Com parte do produto da fraude, ARTHUR VIRGÍLIO fundou o Banco de Angola e Metrópole em 1925, e fez vários investimentos. Comprou um palácio, adquiriu três quintas e uma frota de táxis e gastou rios de dinheiro com jóias. Ambicionando obter o controle do Banco de Portugal  passou a adquirir ações desse estabelecimento, chegando a possuir 10.000 delas, sendo certo que, para ter o controle, necessitaria 45.000.

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..........Não demorou a surgirem rumores de notas falsas, mas os peritos não detectavam qualquer falsidade. Entretanto, jornalistas passaram a desconfiar do fato de que o Banco de Angola e Metrópole estivesse concedendo empréstimos a taxas de juros muito baixas, sem receber depósitos em contrapartida.

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..........Em 5 dezembro de 1925, o jornal “O Século” publicou matéria chamando atenção para o fato. No dia seguinte à publicação jornalística, um inspetor do Banco Central encontrou a primeira nota com numeração duplicada. Foram dadas instruções às agências bancárias para que as notas fossem colocadas nos cofres por ordem de número e com isso foram descobertas inúmeras outras notas duplicadas.

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..........O falsário, que então contava com 28 anos de idade, foi preso, tal como a maior parte de seus cúmplices. O patrimônio do Banco de Angola e Metrópole foi confiscado. Em 1930 foi condenado a 20 anos, 8 de prisão e 12 de degredo ou 25 anos de degredo, mas foi libertado em maio de 1945, morrendo de ataque cardíaco dez anos depois.

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..........Todos os participantes morreram pobres, exceto o cúmplice holandês (Karel Marang), que depois de condenado a 11 meses de prisão, na Holanda, se naturalizou francês e veio a morrer em Cannes, muito rico.

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..........A moeda portuguesa sofreu grande desvalorização. As notas de 500 tiveram que ser retiradas de circulação, com enorme prejuízo para o Banco e para os que as possuíam. O Banco de Portugal processou a Waterlow & Sons nos tribunais londrinos. E a Waterlow & Sons faliu, após ter que pagar indenização ao banco português.

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..........Paradoxalmente, anos depois, as notas de 500 escudos, tanto verdadeiras como falsas, passaram a ter valor para colecionadores, muito superior ao valor nominal. Consta que em 2005 uma dessas notas falsas foi vendida em leilão por 6.500 euros.

Acredita-se que a crise provocada pela fraude tenha influenciado a revolução de 28 de maio de 1926, que derrubou o Presidente da República, Bernardino Machado, e deu origem  à ditadura, e ao Estado Novo.
 

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Perícia Grafotécnica • Judá Jessé de Bragança Soares